segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrevista com Malungo - pte. 2


Agora, colocamos aqui pra você a segunda parte da Entrevista concedida por Malungo à Agenda Cultural do Recife, em Novembro de 2009. Nesse segundo trecho, ele dá mais detalhes sobre como é fazer o De Cara com a Poesia, a repercussão do fanzine pelo mundo afora e sua determinação em conduzir a publicação com qualidade.


AC – E como é o “modo de fazer” do De cara?


Malungo – No começo era muita dificuldade, dava muito trabalho, muita dor de cabeça, mas a gente conseguia montar. Eu primo pela qualidade do zine. Tivemos muita ajuda também do Sindsep, José Campos, o gráfico do Sindsep. Na verdade essa ligação com o sindicato veio através do poeta Valmir Jordão. Hoje, uma das dificuldades é que eu vou fazer o zine em Prazeres, com Tony Borba, que tem uma loja lá e é músico da banda Motor Laranja, e que também está montando meu segundo livro. Então é um sacerdócio, é só pra quem gosta. Sair de Maranguape sábado de manhã pra ir até Prazeres. Uma das pessoas também que eu tenho que citar é Manoel Júnior, que começou a fazer comigo depois que eu deixei de fazer com Bruno, e ele criou várias coisas. Outra cara é o Leonardo Chaves também, que dá vários toques. Meus pais, Epaminondas de Oliveira e Luzinete Farias também dão um suporte.


AC – E como vocês chegaram à essa fórmula gráfica de usar pequenas caixas de texto para cada poema?


Malungo – O De cara com a poesia é praticamente um neto do Poesia descalça e filho do Frente e verso. O Joca de Oliveira já usava essa história de caixas de texto, mas ele não reduz tanto o espaço. Já houveram mudanças, o cabeçalho, hoje do lado, era em cima. Muita coisa também foi ouvindo as pessoas. Eu cheguei a ligar pra muita gente, muitos poetas, pra saber o que achavam. E fui adaptando, mudando.

AC – O De cara hoje circula em vários estados do país e extrapola também as fronteiras do Brasil. Como foi sua estratégia pra fazê-lo chegar em tantos lugares?


Malungo – Começou com um maluco beleza lá em Maranguape chamado Henrique Brandão, que era da banda Arquivo Morto e trabalha com disco. Conversando com ele, ele disse: ”Eu to aqui que não aguento, com uma maçaroca de coisas e sem tempo de responder”. Ele me deu aquele trambolhão de cartas e eu selecionei vinte e cinco endereços bem distribuídos em vários estados e comecei a mandar. Aí despejam coisas de gente que você nunca ouviu falar, chegam cartas e cartas, outros fanzines, corre o mundo. Foi uma coisa natural esse intercâmbio, eu recebo fanzines de quase todos os estados. Semana passada eu recebi um email de uma pessoa de Tramandaí, que eu nunca tinha ouvido falar, no Rio Grande do Sul. Uma poeta de lá mandou um email agradecendo e elogiando o trabalho. Outro dia recebi do Rio de Janeiro um certificado. Agora pouco mesmo, tem a história do meu poema ter chegado a uma revista da China, através do De cara, num contato foi através de Teresinha Pereira, que assina como Teresinka. Eu fui catar e o único brasileiro ali sou eu nessa revista, com o poema em inglês e acho que mandarim, ou chinês. Esse meu poema, DNA, foi premiado agora em janeiro de 2009, em Minas Gerais, no V Concurso Rogério Salgado de Poesia.

AC – A que você atribui a longevidade do De cara com a poesia? O que faz com que, sete anos depois, você continue publicando o fanzine?


Malungo – Às pessoas que contribuem, algum amigo que dá uma ajuda financeira, alguém que leva o zine pra uma universidade, um teatro, de um estado pra outro, alguém que recebe por email e manda pra outras pessoas. E o meu amor à literatura, porque se não tiver amor você num faz muita coisa não. É punk demais. Às vezes, em casa, você não tem uma mesa pra poder fazer cartas, faz no chão, encostado numa poltrona.

AC – E vale a pena Malungo?

Malungo – Tô aqui né? Vale muito, só por esse intercâmbio com as pessoas. Tem gente que manda e-mails, cartas, pessoas que lhe encontram na rua. Outro dia eu encontrei um estudante da UFPE e ele me disse que tinha vários números do De cara, e eu nem o conhecia. Eu descobri na Escola Escritor José de Alencar uma aluna que tem quase todos, tudo classificado. Vale a pena e continua a valer. Eu não me arrependo de maneira nenhuma. Eu já pensei em parar, porque sobrecarrega, mas nem que eu quisesse eu poderia, porque abrange muitas pessoas, coletivos, bibliotecas... Tá gravando?

fonte: Agenda Cultural do Recife, Nov. 2009.

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