A Pré História do Samba

Olá amigos! o Blog estreia seção nova. Trechos do Livro
"A pré-história do samba"  de Bernardo Alves Filho
. Estaremos com frequência atualizando vocês com trechos dessa obra que desvenda as raízes e desmistifica as origens de um dos ritmos mais populares do Brasil

Livro: "A pré-história do samba"
Bernardo Alves Filho (* 30/03/1954 - + 14/08/2004)
Edição do autor/ Prefeitura de Petrolina – 2002.


Advertência : Infelizmente, Bernardo não está mais aqui entre nós para aprofundar, refutar críticas e explicar os pontos mais polêmicos de seus textos.O que se pretende aqui é lançar uma discussão, é "levantar a bola" sobre um tema de interesse cultural de extrema importância. E também prestar uma homenagem a um homem, que entre outras coisas, dedicou mais de 20 anos de sua vida a essa pesquisa.


                     
" O samba foi citado em um dos primeiros trabalhos feitos sobre o folclore no Brasil, elaborado por Celso Magalhães em 1873, no Recife, onde o estudioso assistiu a várias exibições do gênero.Uma vasta literatura regional de grandes autores do século XIX e começo do XX, fixa o samba no mesmo conjunto das secas, do chapéu de couro, do cangaço, etc.
O samba chegou ao Rio como escravo e como retirante e devido à sua condição de nordestino, sofreu preconceitos e discriminações. Ainda no começo do século XX era tenazmente perseguido, mas foi resistindo e conquistando espaço; devido a agora seus cultivadores não serem só nordestinos puros, mas também, cariocas, filhos daqueles.Porém, com o seu sucesso, caiu em mãos inabilitadas e desautorizadas, começando então a degenerar; justamente onde dizem que ele começou a tomar forma, é que começou a sua desfiguração.Apesar disso, as produções musicais ainda continuaram aceitáveis, merecendo a denominação de samba, até 1929, quando sofreram mudanças radicais especialmente na sua percussão, onde foram inclusos instrumentos negros de batucada, como a cuíca e o agogô, impuseram-lhe também um andamento parecido com o da marcha.Francisco Guimarães culpa a elitização e a ganância pela degeneração.
Hilário Jovino foi direto: "Entregue o samba aos seus donos/ É chegada a ocasião/ Lá no Norte não fizemos/ Do pandeiro profissão".
O samba mesmo tem percussão muito discreta. O que se conhece hoje com esse título, realmente não parece ter vindo do índio.À medida que se vai voltando no tempo (estudando-o), ele vai despindo as características negras (não originais) e resgatando as brasilíndias (originais).Para chegar a essa conclusão, é preciso pesquisar com dedicação as culturas negras e ameríndias, em fontes primárias, driblando assim, toda tentativa de negação da cultura indígena.Os instrumentos originais dos negros: o atabaque, agogô, marimba, etc, nunca foram do samba antigo. Dele era a viola, o pandeiro, o chocalho e a flauta, doados os dois primeiros pelos jesuítas. Os índios catequizados dançavam e cantavam acompanhados por esses instrumentos.O que antes era um bater de pés, com a chegada dos jesuítas assimilou para o sapateado. Os índios cantavam improvisando, havia puxador e o coro, que repetia sempre os mesmos versos.E samba é isto aí.           
Sérios estudiosos dedicam toda uma vida pesquisando a língua e outros aspectos da cultura indígena e chegam à conclusão, acima de qualquer suspeita, de que o samba é uma dança indígena, e suas teses passam a constar como mais uma opinião exótica sobre o samba. "
                                            
(Introdução, Páginas 1 a 4)



As origens Indígenas do Samba


Ao se afirmar que o samba é de origem indígena, não se deve pensar que os nossos aborígines andaram compondo esse samba que se conhece nos dias de hoje gritando: 'Óia a iscola na vinida aí gente!'.
Nos reportamos às origens. Deles, nos veio a base, entre outras coisas os motivos musicais e o termo samba., com sentido de folguedo, e esta só veio definir gênero musical com os nossos caboclos.
O samba no sertão já era fusão de duas culturas: a Ibérica, que influenciou esse gênero musical com o sistema harmônico tonal, a sincopa e o compasso, a viola e o pandeiro, este apesar de branco-africano, nos veio com os ibéricos. A influência ameríndia deu-lhe o modelo da construção poética, o tema, o improviso, o ritmo, a gabolice, elementos melódicos peculiares à raça, o costume de beber na função e a própria palavra samba.
A vida dos nossos índios se constituía em cantar, dançar e beber, como podemos deduzir pelos pelo testemunho de vários cronistas dos dois primeiros séculos após o descobrimento. André Thevelt, em 1557, afirmava: 'Em extremo são dados à música e ouvir cantar'.
Os índios Cariris não fugiam à regra e tinham suas toadas, as quais cantavam no Sambanhó, que é a festa onde comem o cágado e bebem o vinho da quixaba.
Seus descendentes mamelucos herdaram suas toadas e chamavam seus folguedos de 'samba-de-pé-de-serra' , ou simplesmente de samba. Da união matrimonial de índios e portugueses, a miscigenação racial e conseqüentemente, o sincretismo cultural. Assimilavam e fundiram as influências musicais, poéticas e coreográficas de cada raça. 'As cantigas locais que eram realizadas, enquanto decorria a dança popular (do Samba-de-pé-de-serra) foram ganhando estruturas e dessemelhanças' (Siqueira, Batista – A origem do termo Samba – Ibrasa – SP, 1978).
Nascendo o Samba, dessa maneira, no alto sertão.






O Erotismo nas danças africanas e outros trechos 




Todos os viajantes que estiveram na África testemunharam a presença da sensualidade nos batuques. Em todo lugar onde a raça negra esteve presente, pode-se facilmente detectar esse traço infalível de sua cultura.


É certo que os depoimentos dos viajantes estrangeiros que presenciaram tais danças dos nativos africanos estão comprometidos com o preconceito, a falsa moral e até com o sensacionalismo , usados como forma de atrair leitores para seus livros. Comprova-se o exagero, mas, na essência , atesta-se ser evidente a existência deste erotismo.


Por que o Samba não é lascivo ?


O Samba não é, nem nunca foi lascivo. Quanto mais próximo de suas raízes, mais ingênuo. Não se encontra lascividade nem nas danças nem nas canções, pois estas estão impregnadas de elementos indígenas.


Essa ingenuidade é caráter ameríndio que se pode verificar em várias outras danças cantadas das Américas pré – colombianas.
Pode-se afirmar que antigamente, o negro era elemento estranho ao Samba, por que o elemento vinculado a este folguedo era mesmo o caboclo sertanejo. Mesmo depois do negro adotá-lo, contribuindo em vários aspectos, até certo tempo a personagem dos seus versos era o caboclo.


O samba, como as secas, sempre lembrou o sertão. O Samba era cultura da "vida de gado", de vaqueiros, corumbas, almocreves ou matutos, que eram, em geral, caboclos.


Em 1875, um leitor mal-humorado escreve para as "Gazetilhas" do "Jornal do Recife" sob o título "Má vizinhança", chamando a atenção das autoridades para os Sambas que se realizavam no centro do Recife, fazendo uma "algazarra infernal, quase todas as noites, prolongando-se mais nas vésperas de dias santificados", reclamando mais a diante:


- "Parece que estamos em pleno sertão".




Do livro : A pré – historia do samba – Bernardo Alves.




Trechos do Livro "A pré-história do samba"  de Bernardo Alves Filho 

(páginas 30 a 33)




Por que o negro corromperia sua própria palavra? Os Bantos tinham não só a palavra "semba" como também a própria palavra "samba". Desde que está comprovada a existência dessas duas formas, independente da semelhança entre elas, tem que se admitir que é altamente improvável que tenha havido uma corruptela de uma para outra. No caso, teria ocorrido uma substituição entre duas palavras diferentes e de grande difusão cultural. Mesmo essa substituição não tem lógica, devido ao sentido de cada uma. "Semba" umbigada, que era o passo de uma dança erótica, dificilmente teria sido substituída por "Samba", que em alguns dialetos bantos, significava rezar, orar. Festas profanas e ritos religiosos eram duas manifestações cuidadosamente separadas entre si pelos bantos.....

Portugal, que desde as primeiras décadas do século XV recebia negros e conhecia a umbigada, só veio conhecer a palavra Samba (como folguedo ou não) através da música brasileira. Nos antigos dicionários portugueses quase não constava a palavra "samba". Quando esta começou a aparecer nos mesmos, nada tinha haver com a famigerada umbigada, mas sim, com a coreografia e com o nome de uma ilha. Finalmente, quando apareceu como folguedo, como bailado popular, foi como "termo brasileiro".....

Conclui-se, que, realmente, soava estranho para os negros empregar "samba" no lugar de "semba" significando coisas tão diversas. Porém predominou a cultura do branco: "semba", que ainda na África tinha "virado" batuque, perdia, agora, seu nome para "samba", nome das danças e cantos dos nossos sertanejos.

O equívoco vem de longe, desde a época em que o samba só era popular em algumas regiões do Nordeste, época em que o povo do Sul nem sequer imaginava o que "samba" pudesse significar. Ainda em 1915, o Diário de Pernambuco publicava o seguinte:

"O Samba, conhecido também por batuque, é uma dança popular, que talvez tenha tido sua origem lá pelas costas da Guiné" (Diário de Pernambuco, agosto de 1915).

Os especialistas, tendo conhecido o samba apenas através do negro e vendo este já com algumas marcas negras, confundiram a etimologia das palavras "semba" e "samba".

O mundo conheceu o samba através da cultura brasileira, com os "Oito Batutas" ·, Carmem Miranda e a Bossa Nova. O Brasil conheceu o samba através do Rio de Janeiro, com gravações como "Pelo Telefone". O Rio de Janeiro o conheceu através dos nordestinos. No Nordeste, os mais antigos registros nos levam ao Recife, com o testemunho de Lopes Gama, no seu jornal "O Carapuceiro" de 1837 a 1838. (O Carapuceiro, de 22 de novembro e de fevereiro de 1838).

O Recife recebeu essa palavra do sertão do Cariri, no Cariri foi registrada em 1699, pelo padre Maniani na sua "Arte de gramática da Língua Brasílica da Nação Kariri" , onde consta a primeira palavra "samba" escrita (Padre Luiz Vicencio Maniani – Oficina de Miguel Deslande, Lisboa, 1699) .



Um comentário:

  1. Como e onde conseguir download do livro A Pré História do Samba?
    obrigado pelo belo blog.

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